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Escola de música de São Paulo usa 'Guitar hero' para auxiliar no aprendizado
Escola de música de São Paulo usa 'Guitar hero' para auxiliar no aprendizado
Depois de revolucionar os games, virar estilo de vida, bater recordes de vendas e sinalizar uma salvação para bandas e a indústria fonográfica, o gênero de jogos como “Guitar hero” e “Rock band” começa a invadir um novo espaço: as escolas de música.
Em São Paulo, um dos maiores centros de ensino musical do país inaugurou uma sala com Nintendo Wii e os jogos “Guitar hero”, “Rock band” e “American idol”. Esse rock virtual começou a ganhar espaço na escola quando um aluno voltou das férias tocando melhor e falando em bandas como Rolling Stones e The Who. “Eu notei que ele estava apresentando interesse maior em bandas mais antigas, o que acabou ajudando no desempenho dele”, conta Alex Rodriguez, professor de guitarra da Escola de Música e Tecnologia (EM&T). “E o avanço tinha sido causado pelo ‘Guitar hero’”, completa.
Alex conta que não foi difícil convencer a direção da escola a prestar atenção nos games, já que todos tinham ouvido falar da “febre”, iniciada em 2005. Hoje, a sala “de música” virou “de jogos”. Tem guitarras de verdade nas paredes, mas é dominada pela bateria de plástico de “Rock band” e as guitarras de “Guitar hero”. Os jogos, que não fazem parte do programa de ensino oficial da escola, estão disponíveis para que os alunos “toquem” quando quiserem.
Nesses games, o objetivo é acionar os botões coloridos na hora certa para encaixar as notas que passam na tela, reproduzindo músicas de bandas famosas – ou nem tanto. Para Alex, jogos como esses auxiliam no ensino da música por três motivos: trabalham a noção de ritmo, obrigam o jogador a antecipar a leitura de notas e abordam diferentes correntes e movimentos do rock, resgatando bandas que, de outra forma, seriam pouco conhecidas da nova geração.
Com algumas variações entre “Guitar hero” e “Rock band”, a estrutura básica é a mesma: o jogador forma suas próprias bandas e sai para as turnês, tocando em diferentes cidades, ganhando fama e construindo uma carreira. Enquanto “Guitar hero” tem uma visão mais bem humorada do universo do rock, “Rock band” aposta em um perfil sóbrio, com atenção a fatos históricos e informações sobre as músicas.
Somando a trilha sonora das seis versões de “Guitar hero” e duas de “Rock band” lançadas até o momento, além de expansões e músicas para download, o saldo é de centenas de músicas e dezenas de bandas – desde Black Sabbath e Deep Purple até Sex Pistols e Metallica. Ou, se preferir traçar sua própria linha do tempo, anote outros nomes: Jimi Hendrix, Ozzy Osbourne, Beastie Boys, Weezer, Kiss, Guns N´Roses, Iron Maiden, David Bowie, Bob Dylan, Nirvana, Pearl Jam, Foo Fighters, System of a Down e, finalmente, em 2009, Beatles.
Escola do rock
Em uma “jam session” de Rock Band, o professor Alex forma banda com outros professores e alunos da escola. O jogo da vez é “Rock band”, e eles tocam Oasis (“Don´t look back in anger”), Foo Fighters (“Learn to fly”) e The Clash (Should I stay or should I go”).
No vocal, Clariana Oliveira, de 19 anos, que na “vida real” faz aulas de canto e tem uma banda. Ela escolhe as músicas que sabe cantar, e termina a apresentação com um bom resultado – identificado pela porcentagem de acerto e “títulos” que tentam traduzir o papel do jogador na banda, como “o perfeccionista” ou “o salvador da pátria”.
Ela conta que o nível fácil é bastante simples, mas que a partir do médio já é possível perceber o funcionamento das notas, dos tons e da necessidade de acertar a letra durante a música.
Na bateria está Luís Fabiano, de 26 anos, que estudou bateria na EM&T e hoje dá aulas ali mesmo. “Eu tenho uma aluna que começou a fazer aulas por causa do ‘Rock band’. Ela diz que tocou uma música do Oasis na bateria e se animou”, diz ele.
“Como a bateria é um instrumento percussivo, [o game] fica mais parecido com o instrumento real. Você pode começar do fácil até o mais difícil, então, sem o jogador perceber, ele vai desenvolvendo aos poucos”, explica. O primeiro jogo a ter bateria foi “Rock band” (2007), com um kit contendo um pedal e quatro “pads” coloridos que simulam as partes de uma bateria real. Em 2008, “Guitar hero: world tour” também adotou o instrumento, que foi incrementado com novas partes, assim como em “Rock band 2”.
Outra vantagem dos games, diz Luís, é resolver a questão da disciplina. “Alunos de 12, 13 anos, não têm uma disciplina de estudar todo dia. Com o jogo, isso fica mais fácil, porque ele está se divertindo e acaba aprendendo”.
Quem aprendeu com o joystick tradicional do PlayStation 2 e agora se adapta a uma das guitarras de plástico é Marcelo Zanolla, de 26 anos, outro integrante da banda improvisada na salinha. “O pessoal critica [o game], mas quando experimenta vê que é uma coisa legal. A pessoa entra no mundo da música. É um grande incentivo”, explica.
O ‘velho’ instrumento
Para o professor Marcos Maia, do Conservatório Musical Beethoven, a fascinação por jogos como “Guitar hero” e “Rock band” é passageira. Ele dá aulas há 21 anos e diz que os games, por mais que possam atrair os jovens em um estado de aprendizagem inicial, não substituem os treinos e exercícios.
“O velho instrumento ainda continua. É isso que está marcando a vida das pessoas”, diz. Para Marcos, esses jogos trabalham com a imagem de palco, passando a sensação do que o aprendiz de músico gostaria de protagonizar. “A pessoa vê na TV e quer imitar. Aquilo fica registrado”, explica.
Ele não acredita que o jogo possa incentivar pessoas a buscarem aulas de música, e diz que não conhece nenhum caso de jogadores que se transformaram em alunos.
No Conservatório Villa Lobos, Marcelo Freitas, de 22 anos, dá aulas de bateria e percussão. Ele tem “Guitar hero” e “Rock band” em casa, mas diz que os games são apenas “uma forma diferente de se praticar música, com uma idéia mais artificial”.
Mesmo assim, ele não descarta os benefícios do rock virtual. “A bateria dos games ajuda a desenvolver a concentração, atenção e independência dos membros do corpo, assim como na bateria real”, explica.
Professor há sete anos, ele conta que o fator diversão dos jogos também ajuda os alunos a praticarem de maneira mais descontraída. E lembra que, se a guitarra dos games não tem as cordas do instrumento de verdade, a bateria de plástico se aproxima muito do instrumento real.
Fonte: Globo
Data: 19/11/2008
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